Açúcar: O que esperar da nova safra da Índia e seus impactos globais no ciclo 2023/24

Publicado em 10/10/2023 10:00
Consultorias estimam produção do adoçante na nova temporada em cerca de 30 milhões de t, podendo ser a menor safra do país em quatro anos

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A safra 2023/24 (outubro-setembro) de açúcar da Índia acabou de começar. A partir de agora, muitas dúvidas sobre o país – segundo maior exportador global do adoçante e maior consumidor do mundo – começarão a ser esclarecidas. O fenômeno climático El Niño tem sido o principal responsável para o clima adverso nas áreas produtoras indianas de cana-de-açúcar, o que pode fazer até o país limitar suas exportações.

As chuvas de monções, de junho a agosto, na Índia, ficaram 10% abaixo do normal, sendo que somente em agosto totalizaram 162,7 mm, o menor volume para o mês desde 1901, segundo o governo. Em setembro, esse cenário já deu sinais de melhora, mas ainda preocupa. "Por mais que o volume no último mês tenha sido melhor, ainda não é suficiente", explica Marcelo Di Bonifacio Filho, analista em inteligência de mercado da StoneX.

Apenas em Maharashtra, principal estado produtor indiano de açúcar, há um déficit de 9% no ciclo de monções deste ano, além de previsão de uma menor área colhida como um todo.

Nas projeções da consultoria, a Índia deve ter produção de açúcar no ciclo 2023/24 em cerca de 30 milhões de toneladas, após corte na última estimativa. Esse seria o menor volume produzido desde a temporada 2019/20 (27,40 milhões de toneladas). Diante da menor produção, já se fala em retomar as restrições à exportação no país para garantia do abastecimento interno – algo que o governo ainda nega que possa acontecer.

"Na nossa visão, por mais que exista essa versão de que a Índia não deva restringir as exportações, fato é que uma quebra dessa prevista para a nova safra não é nada favorável para os estoques e os preços já estão muito altos. Então, acreditamos que há sim a possibilidade de restrição entre o início do ano que vem e abril pelo país asiático", complementa o analista da StoneX ao Notícias Agrícolas.

Trabalhadores de uma usina de açúcar carregam cana-de-açúcar colhida em um carrinho trator no distrito de Sangli, no estado de Maharashtra, Índia, 3 de dezembro de 2022 - Foto Reuters
Com qubra na safra da Índia, trading inglesa Czarnikow vê um déficit de 3,2 milhões de t em 2023/24 - Foto: Reuters

A produção de etanol também passou a ganhar ritmo na Índia nos últimos anos, o que pode fazer com que o país utilize mais cana para a fabricação do álcool combustível ao invés do adoçante.

Já a hEDGEpoint estima a produção de açúcar na Índia em 2023/24 em 31,4 milhões de toneladas também alertando o impacto do fenômeno El Niño para as lavouras de cana do país, mas diferente da StoneX ainda é reticente em fazer revisões diante dos dados climáticos dos últimos meses. Lívea Coda, analista de açúcar e etanol da hEDGEpoint Global Markets, explica o porquê de ainda não ter alterado seus números.

"Olhando para o Índice Padronizado de Precipitação (SPI) – um índice importante e bem aceito para monitoramento de secas usado pelo Ministério da Agricultura da Índia para definir se uma região foi afetada pela seca ou não – é possível notar que mesmo com um agosto severo, os principais estados produtores, como Uttar Pradesh, Tamil Nadu e Gujarat, sofreram pouco durante todo o período (junho-setembro)", diz Lívea.

Mas, Maharashtra, tem dados que chamam a atenção. "É claro que muitos distritos de Maharashtra e Karnataka foram gravemente afetados, mas, olhando para o quadro mais amplo, esta produção inferior a 30 milhões de t ainda é difícil de compreender: a Índia já surpreendeu o mercado positivamente no passado, mais de uma vez!", diz a analista.

Apesar disso, a hEDGEpoint ainda não descarta a possibilidade de a Índia restringir seus embarques para garantia de abastecimento interno.

COMO FICA O MERCADO GLOBAL COM A QUEBRA NA ÍNDIA?

Diante de todo esse impacto do clima na safra da Índia, país com destaque na produção global, as estimativas de oferta e demanda para o ciclo global 2023/24 (outubro-setembro) não são nada positivas. A StoneX, por exemplo, prevê um déficit de 290 mil toneladas no ciclo, após superávit de 1,30 milhão de t em 2022/23. O cenário só não será pior por conta das boas expectativas com a safra do Centro-Sul do Brasil.

"Se o Brasil já era protagonista nesse mercado, com essa questão da Índia isso só crescerá. E o país tem uma perspectiva positiva, que ajudará no balanço global. Esperamos uma moagem recorde de 623 milhões de toneladas para 2023/24 (abril-março) no país e uma safra ainda maior para 2024/25, em cerca de 629 milhões de t", diz Filho. A produção total no ciclo é esperada pela StoneX em 191,9 milhões de t e a demanda em 192,2 milhões.

Já a trading inglesa Czarnikow anunciou, na semana passada, que a safra global 2023/24 deve ter um déficit de impressionantes 3,2 milhões de t, sobre estimativa anterior de 1,1 milhão de t em setembro deste ano. "A produção mundial de açúcar estava a caminho de ser a segunda maior já registrada, mas o mau tempo abrandou o crescimento das safras", disse em nota a analista Tabasoom Watak.

Além da Índia, outros países tiveram chuvas irregulares que afetaram o desenvolvimento da cana. "Por exemplo, em Maharashtra isto levou a uma diminuição de 1,5 milhão de toneladas nas previsões de açúcar para a safra 2023/24", complementa Watak. Para a trading, a produção total em 2023/24 é estimada em 175,6 milhões e o consumo em 178,7 milhões de t.

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Por:
Jhonatas Simião
Fonte:
Notícias Agrícolas

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